Seus olhos claros refletem a recompensa da luta que decidiu travar nos últimos dez anos. O jeito doce de se expressar, talvez um contraste com o passado cruel, parece ser recompensa do esforço diário à Casa do João.
Após perder seu único irmão em um assalto à mão armada em Fortaleza há sete anos, Joelma Ildefonso viu seus pais sucumbirem à depressão. João Ildefonso faleceu no dia do seu aniversário, aos 28 anos.
“Ele morreu da forma mais bruta, sem aviso ou preparação", lamentou a irmã.
Casos como o do irmão de Joelma vêm crescendo na capital cearense. Dados divulgados pela Secretaria Segurança Pública e Defesa Social do Estado do Ceará (SSPDS) mostram que, no primeiro trimestre de 2017, houve aumento no número de Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLIs) – homicídios, latrocínios e lesões corporais seguidas de morte – em relação ao mesmo período em 2016.
Ganharam um fogão. “Não era novo, mas para nós tinha o gosto de brinquedo desejado”. Foi preciso fazer mudanças, a sopa começou a ser servida na varanda da casa de seu Chico e dona Diolina. As ações foram aumentando. Eram festas de Dia das Mães, das Crianças, de Natal.
O tempo fez com que Joelma sentisse a necessidade de uma “certidão de nascimento”. Não era João que voltava à vida, mas sim, seu amor que se multiplicava e fazia surgir em, 23 de junho de 2010, o Instituto João Ildefonso de Oliveira, ou simplesmente Casa do João.
"Foi uma realização imensurável! Chegava a hora de colocar em prática várias ideias, para acalmar nossos corações que queimam em abraçar as causas sociais", lembrou a filha de seu Chico e dona Diolina.
Hoje, a Casa do João está em construção e tem como alicerce o amor de cerca de 110 crianças em situação de vulnerabilidade social. Nascidas no bairro Ancuri, a maioria possui pais presidiários ou que não têm condições de pagar por uma creche.
O caminho a percorrer não é curto. Para manter a Casa do João, a família Ildefonso necessita de material de construção, de higiene pessoal e limpeza, alimentos perecíveis e não perecíveis, móveis novos e usados, roupas, brinquedos.
Sobre arrependimento, eles não pensam. Acreditam que fizeram a escolha certa. “Eu tenho quase certeza de que quando eu encontrar João, ele vai se orgulhar e agradecer”, afirmou Joelma, com o olhar fixo para o porta-retrato do irmão exposto logo na entrada do Instituto.
É na assistência das famílias do Ancuri que Joelma recarrega sua força motriz para continuar a ser a mola propulsora do Instituto.
“Minha recompensa é ganhar um novo coração a cada dia”.
A Casa do João é construída a cada dia. Colabore!
INSTITUTO JOÃO ILDEFONSO DE OLIVEIRA
I.J.I.O. CASA DO JOÃO | CNPJ-12.277.822/0001-01
Rua São Lopoldo, 678, Ancuri, Santa Fé
Fortaleza – Ceara | CEP-60874-170
Fones: (85) 3023.1104 | (85) 99902.3126
Email: ijiocasadojoao@hotmail.com
Facebook: Casa Do Joâo Ijio
Fonte: SSPDS
Após a perda de João, o sofrimento da família só crescia com o passar dos dias. A única solução encontrada por Joelma, aflita por ajudar seus pais: “a vontade de fazer algo por alguém que surgia devagar”.
A primeira atitude foi organizar um sopão aos sábados junto com um “racha” entre amigos. O fogão e as panelas eram emprestados pelo dono do campo de futebol. O quilo de feijão, arroz, farinha substituíam a taxa cobrada para quem quisesse jogar. As verduras “um grande amigo nosso ajudava”, adiantou Joelma. O pão às vezes tinha, às vezes não.
Com muita paciência, Joelma conseguiu convencer Seu Chico e dona Diolina, seus pais, a se envolverem com a causa. “De início não foi fácil não, mas depois foram criando gosto”, explicou. Aos poucos, o deleite pelo trabalho humanitário foi brotando e dominando o trio. A sopa foi aumentada de 80 para 150 litros à medida que curava a ferida e amenizava a saudade.
| Crianças atendidas pela Casa do João |
Uma pesquisa divulgada em março de 2017, compilada pela Fundação Abrinq a partir de dados do Ministério da Educação, referentes ao ano de 2015, mostrou que quase 70% das crianças não têm acesso à creche na capital cearense. Sem vagas na rede pública, as mães de menor renda precisam recorrer a alternativas variadas, como deixar os filhos com vizinhos ou abandonar emprego.
A Casa do João torna-se uma alternativa. Crianças são acolhidas e assistidas em período integral por oito professoras, todas formadas em Pedagogia. Alimentam-se cinco vezes por dia, tomam dois banhos, chegam às 8h e saem às 17h.
Composto por um salão principal, que dá acesso a duas salas de aula; dois banheiros; uma cozinha improvisada, consultório médico e dentário, ainda inacabados, o Instituto sobrevive de doações. “São os anjos sem asas”, define Joelma.
Além da creche, a Casa do João entrega todas às sextas-feiras, a partir das 17h30min, 360 litros de sopa. 120 famílias são assistidas com três litros. Num mês, um total de 7.000 pratos. A cada três meses, é realizado também um bazar de usados, provenientes de doações. Toda renda arrecadada é destinada para as obrigações sociais.
Foto: Divulgação
| Dona Diolina, seu Chico e Joelma |